Você já
reparou que os relacionamentos mãe-filha, nos livros da Jane Austen,
não são muito afetuosos?
No livro
de Claire Tomalin, ela conta que a distância emocional entre Jane e
sua mãe foi evidente por toda a sua vida. Aliás, há uma frieza,
não só em relação à mãe, como também em relação a ela mesma.
Tomalin diz que, quando se lê as cartas de Jane, percebe-se seu
espírito sensível e vivo, mas também sua couraça e uma certa
postura defensiva. Ela não demonstra ternura por ela mesma, nem
pelos demais. São cartas, diz a biógrafa, de uma pessoa que não
abre o seu coração para ninguém e, na mulher adulta (…) se
adivinha a menina que não sabia onde buscar o amor ou a segurança e
que se refugiou atrás de uma couraça para se defender da rejeição.
Por que será que Jane Austen era assim?
Por que será que Jane Austen era assim?
A
resposta estaria em uma prática comum na época dos Austen. Nos
primeiros meses de vida do bebê, ele era amamentado pela mãe, mas,
em seguida, era entregue aos cuidados de uma mulher da vila, e por lá
permanecia até completar um ano e meio mais ou menos.
No caso
da nossa escritora favorita, parece que ela foi entregue aos cuidados
de uma outra mulher com catorze semanas de vida. Imagina uma criança
ser separada da mãe nessa fase?!
Era algo
que acontecia em muitas famílias burguesas, embora houvesse gente
que considerasse essa prática deplorável, pois, quando as crianças
voltavam para casa, elas não queriam saber de ficar com a mãe, mas
choravam de saudades das mulheres que haviam cuidado delas.
Em
contrapartida, Jane Austen ficou muito próxima de Cassandra, sua
irmã mais velha. Cassandra se sentia como sua mãe, a pegava no
colo, brincava com ela. Pode ter surgido daí o vínculo profundo que
uniu as duas irmãs por toda a vida da escritora. E pode ser daí,
também, que encontramos irmãs muito próximas em dois dos romances
de Austen: Elizabeth e Jane, em Orgulho e Preconceito; Elinor e
Marianne, em Razão e Sensibilidade.
É
provável que o frio relacionamento de Jane Austen com sua mãe, na
vida real, tenha influenciado os relacionamentos mãe-filha em sua
obra.
Mas o
interessante é que, para mim e muitas mulheres que conheço, Jane
Austen foi uma herança passada de mãe para filha. Um laço que une
gerações de mulheres. No meu caso, gosto de dizer que ler Jane
Austen me faz estar em contato com a minha linhagem feminina, pois
todas as mulheres da minha família materna amam essa escritora.
A
própria Claire Tomalin, nos “Agradecimentos” do seu livro JaneAusten – a Life, faz uma referência carinhosa à sua filha, pelas
conversas que teve sobre a escritora e pelo carinho que ambas
compartilham por ela há muitos anos.
Se depender das mães que amam Jane Austen, suas filhas vão continuar amando os seus livros.
Até
segunda-feira que vem!
Yours
faithfully,
Rebeca
Miscow
(do
blog Desanuviando)
interessante, gostei do artigo.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirGostei muito desse post.
Fiquei com vontade de ler o livro: "Jane Austen - a Life".
beijo