21 de jan. de 2016

RESENHA: ORLANDO DE VIRGINIA WOOLF

Jane Austen foi sem dúvida a maior responsável por me fazer amar a literatura inglesa, e despertou meu interesse por buscar conhecer mais obras e autores clássicos. E foi nessa busca que me deparei com Virginia Woolf. Venho acompanhando há algum tempo um Vlog excelente chamado Livro & Café, administrado pela Orientadora Pedagógica Francine Ramos, e notei que ela frequentemente fazia menções às obras de Virginia e não poupava elogios.
Por essa razão decidi pesquisar sobre a autora e descobri um ser humano fascinante e complexo. Woolf foi uma das precursoras do modernismo literário explorando novas modalidades de escrita criativa, além disso era feminista, bissexual, tinha um relacionamento aberto com o marido, sofria de transtorno bipolar, fora abusada sexualmente pelos irmãos durante a infância, sobreviveu à primeira guerra mundial e por fim cometeu suicídio em 1941. A autora também ,juntamente com Emily Dickinson, conseguiu ser uma das duas únicas mulheres a fazer parte dos cânones literários poéticos. Diante dessas informações fiquei muito ansioso para ler algo escrito por essa mulher que passou por tantas experiências trágicas e enriquecedoras, e seguindo os conselhos da própria Francine comecei pela obra "Orlando: Uma Biografia".



O livro publicado em 1928 acompanha a história do personagem homônimo desde os seus 16 anos, no século XVI, até quando ele completa os seus 36 anos, no século XX. Pode parecer confuso, mas é isso mesmo, enquanto para Orlando se passam apenas 20 anos, se passam mais de 300 anos na história da Inglaterra, o que nos permite acompanhar as mudanças sofridas pelo país ao longo dos séculos. Talvez a autora quisesse com essa desconstrução cronológica nos fazer refletir sobre a relatividade do tempo, como ele às vezes parece passar muito rápido ou muito devagar de acordo com a situação e como nossa percepção dele é muitas vezes falha.

Orlando é um personagem complexo, tímido, reflexivo, romântico, rico, possuidor de uma beleza rara e de uma generosidade que beira a ingenuidade. Ele sonha em ser poeta e dedica boa parte de sua vida à construção de um poema chamado "O Carvalho". A estória é muito simples, basicamente é sobre um personagem em busca da felicidade, do amor, da fama e por fim da verdade e creio que todas as aventuras pelas quais ele passa são apenas pano de fundo para a verdadeira essência do livro, que é o desenvolvimento do personagem.

Durante o livro, Orlando passa por diversos momentos de epifania e desilusão e esses momentos são, na minha opinião, os mais enriquecedores da obra nos trazendo várias lições de vida. A autora conseguiu discutir através do livro alguns temas polêmicos, como as questões de gênero (uma vez que Orlando muda de sexo na metade da estória), ela nos convida a refletir sobre o que realmente difere um homem de uma mulher, se são as roupas, as restrições sociais, a orientação sexual, a capacidade intelectual, a mente ou o corpo. Na minha opinião o livro trata sobre a complexidade do ser humano, como todos nós somos compostos por vários aspectos, ou como diz Orlando vários "eus". Assim como a própria autora possuiu diversas facetas (escritora, esposa, amante, crítica literária, feminista e etc) Como vemos nos trechos a seguir:
            "esses eus de que somos constituídos, sobrepostos uns aos outros como pratos empilhados na mão do copeiro, têm suas predileções, simpatias,  pequenos códigos e direitos próprios, chamem-se como quiserem (e muitas dessas coisas não têm nome), de modo que um só virá se estiver chovendo, outro, se for num quarto com cortinas verdes, outro, se a Sra. Jones não estiver lá, outro, se lhe pudermos oferecer um copo de vinho."
            " Vem, vem! Estou mortalmente cansada deste eu. Preciso de outro"

O que também chama a atenção é a escrita da autora, tão poética, tão bem estruturada e bela o que torna a leitura prazerosa. Mas não vou mentir, este livro é um tanto quanto hermético e enigmático, especialmente no último capítulo,  houveram partes que não pude entender. É um livro para ser relido, ele requer concentração pois existem muitas informações preciosas nas entrelinhas. As reflexões que Orlando faz sobre a vida me lembraram um pouco de Clarice Lispector, pois toda a obra é envolta em uma atmosfera de solidão, desilusão e melancolia, de expectativas frustradas, como vemos no trecho abaixo:
            "Procurei a felicidade muitos anos e não a encontrei; procurei a fama e perdi-a; o amor, não o conheci; a vida - e eis que a morte é melhor. Conheci muitos homens e muitas mulheres", continuou, " não entendi nenhum. É melhor que fique aqui em paz, só com o céu por cima de mim."

Enfim, um livro super indicado para você que está a procura de livros mais profundos, reflexivos e que gosta de literatura inglesa. A obra acabou de receber uma nova edição aqui no Brasil, publicada pela editora Autêntica. E para os interessados também existe um filme de 1992 baseado no livro (Orlando - a mulher imortal) e estrelado por Tilda Swinton. que interpretou a feiticeira branca no filme "O leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" de 2005.

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